[A] natureza dupla (por assim dizer) do sujeito humano, por essência inteligente e consequentemente por essência na posse de um objecto universal do seu entendimento, tem sido muitas vezes negligenciada. Este engano, que confunde o objecto essencial para o sujeito inteligente com o próprio sujeito, causou vários erros. Aquilo que pertence apenas ao objecto é atribuído ao sujeito, e vice-versa aquilo que pertence ao objecto é atribuído ao sujeito. Esta incorrecção deu origem a dois sistemas éticos erróneos, aos quais, me parece, todos os erros do ensinamento moral podem ser, em última análise, reduzidos.O primeiro sistema erróneo atribui ao sujeito aquilo que pertence ao objecto. Já indiquei como o objecto (que, no meu entendimento, é a lei moral suprema) está dotado de características divinas, como sejam a imutabilidade, a eternidade, a universalidade, a necessidade. Todas estas características foram erradamente atribuídas ao sujeito humano, que desse modo foi deificado. Aqueles que defendem este sistema falam entusiasticamente do que é divino no ser humano, e fazem a criatura humana uma lei por si mesma. Kant chamou a este sistema de autonomia, isto é, "lei de si mesmo".O segundo sistema erróneo cai no outro extremo, atribuindo ao objecto, isto é, à lei moral, aquilo que pertence ao sujeito. O ser humano é mutável, temporal, limitado, contingente, e são feitos todos os esforços para atribuir estas características à lei moral. Aqueles que defendem este sistema querem fazer crer que a lei está sujeita a mudanças contínuas, tal como o clima, os costumes, a educação ou as raças mudam. Tal sistema destrói toda a lei moral, e tem sido convictamente ensinado e difundido juntamente com a filosofia sensista que lhe deu origem.Antonio Rosmini, Principles of Ethics, chapter 1, article 4. (1831). Tradução própria.