Quando dizemos que os eleitores "escolhem" os seus representantes utilizamos uma linguagem muito inexacta. A verdade é que o representante elegeu-se a si mesmo por intermédio dos eleitores, e, se esta frase parece demasiado contundente e dura para se ajustar cabalmente a certos casos, podemos descrever a situação dizendo que os seus amigos o elegeram. Nas eleições, tal como noutras manifestações da vida social, aqueles que possuem a vontade e, sobretudo, os meios morais, intelectuais e materiais, para impor a sua vontade a outros, adiantam-se a estes e governam-nos.
Tem-se equiparado o mandato político com o poder do advogado no direito privado. Mas nas relações privadas, as delegações de poderes e faculdades pressupõem sempre que o mandatário tem a mais completa liberdade para escolher o seu representante. Ora, na prática, nas eleições populares, essa liberdade de escolha ainda quando teoricamente completa, é necessariamente nula, e até poder-se-ia dizer ridícula. Se cada votante desse o seu voto ao candidato do seu coração, podemos estar seguros de que na maioria dos casos o único resultado seria uma dispersão de votos. Quando muitas vontades entram em jogo, a eleição é determinada pelos critérios mais variados, quase todos eles subjectivos, e se essas vontades não fossem coordenadas e organizadas seria virtualmente impossível que coincidissem na escolha espontânea de um indivíduo. Para que o voto do cidadão que vai às urnas tenha alguma efeito, cada eleitor vê-se obrigado a limitar a sua escolha a um campo muito restrito de candidatos; por outras palavras, vê-se obrigado a escolher entre as duas ou três pessoas que têm probabilidades de êxito; e as únicas que as têm são aquelas cujas candidaturas são auspiciadas por grupos e por comités, ou seja, por minorias organizadas.